quinta-feira, 18 de junho de 2009

Não me candidato contra ninguém...

Hoje ao ver e ouvir na TVI a entrevista, em directo de Jose Eduardo Moniz sobre a hipotética candidatura á presidencia do Benfica, sublinhei com agrado uma frase que tenho pena os média
não tenham dado a devida nota, porque no contexto actual do País e da Profissão me pareceu de realçar.
Disse Jose Eduardo Moniz "... não me candidataria contra ninguém, mas com e por um projecto em que acreditasse, capaz de motivar todos os Benfiquistas e que a ele me pudesse e tivesse disponiblidade de me dedicar a tempo inteiro!", fim de citação.
Numa altura em que no Pais vivemos um periodo pré-eleitoral, que na Profissão se vislumbram mudanças radicais, este sentimento expresso por este Homem é de apreender e sobre ele reflectir.
Verificamos que ás próximas eleições concorrem pessoas que ora estão num lado ora no outro, procurando servir os interesses do partido. Poder-se-á questionar: quem os elege, o partido ou o cidadão que acredita?
Temos uma Profissão liderada por pessoas que estão em vários sitios aos mesmo tempo, qual interesse pessoal ou outro qualquer que não o que realmente deveria estar presente. Pessoas que não exercem a Profissão, pelo que naturalmente não a sentem, logo como é possivel querer defendê-la ou aos seus profissionais?
Tenho imensa pena que os média não se preocupem em realçar o que poderiam ser detalhes motivadores para que os cidadãos deste Pais possam voltar a acreditar em projectos contruidos por pessoas e para pessoas liderados por quem efectivamente os sinta .

segunda-feira, 15 de junho de 2009

OS FIOS DA EXISTÊNCIA




15/6 Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência contra as Pessoas Idosas

A violência contra idosos está ainda "no armário" na sociedade portuguesa e precisa de fazer o mesmo caminho de divulgação que aconteceu com a violência doméstica contra as mulheres, apontaram hoje vários especialistas num seminário em Lisboa.
No Dia Internacional de Sensibilização sobre a Prevenção da Violência contra as Pessoas Idosas, técnicos de assistência social e profissionais de saúde concordaram no diagnóstico da falta de visibilidade do problema, que impede que sejam feitas mais queixas, aliada a factores como a vergonha ou a falta de conhecimento das vítimas.
Outra das conclusões indicada como alarmante é o facto de os abusos e a violência - física, mental ou financeira - serem praticados por familiares, o que contraria a ideia da instituição familiar como reduto de afecto e carinho para com os idosos
. " in Agência Lusa"

Um dia destes alguém comentava comigo que uma vizinha idosa tinha recebido a visita de um filho, engº , que já não via há uns meses.
Comentava ela : " ...o meu filho veio visitar-me, fiquei feliz, mas... foi para que lhe matasse a fome e lhe emprestasse € 50,00"

Hoje mesmo, um amigo , reformado no limite da idade da CGD, comentava o quanto se sentia feliz por poder agora viajar e entreter-se com o que mais lhe dava prazer!!

Certamente dois casos opostos, mas que de uma forma simples nos demonstram que a velhice está longe de ser um periodo da vida em que o Ser Humano seria como que reembolsado do muito que tinha dado á sociedade.

A violência sobre os idosos é muitas vezes exercida sem que os mesmos possam ou queiram reagir, sobretudo se ela acontece no seio familiar, tanto mais que pode traduzir-se de multiplas formas, sejam elas fisicas ou psicológicas. E não podemos dizer que ela possa ser caracteristica deste ou daquele extracto social.
Sobretudo nestes casos a vergonha é um dos grandes factores que levam o idoso a inibir-se perante a denuncia.

Cumpre á sociedade em geral, criar mecanismos quer de defesa quer de protecção para que o idoso possa disfrutar desta fase da sua vida , continuando a sentir as suas capacidades, partilhando o seu saber feito de experiência, enfim proporcionado ao idoso o sentimento de que a velhice não deve significar morte, antes mais um projectar-se no futuro pela partilha.

Um abraço solidário

sábado, 13 de junho de 2009

A In-significância do presente


«A literatura é grande quando ela trata o Mal. Não quando o cura, quando quer ou crê curá-lo: não se cura como também não se cura o real».
Christian Prigent, A quoi bon encore des poètes?, POL Éditeur, Paris, 1996


Olhando o passado, talvez se possa dizer que a preocupação do homem foi sempre a de acertar significados e coisas. Acertar a vida humana. Tal tarefa hercúlea vem desde a invenção da magia e dos rituais como forma prática de estar por dentro das coisas utilizando-se a significação atribuída como instrumento dessa entrada. Mitos, religiões, poesia, filosofia e ciência foram os passos seguintes, e cada um sempre novo para novos tempos, novos espaços e outros mundos. Porém, como diz Christian Prigent, «mais do que nenhum outro talvez, o nosso mundo é um mundo com falta de sentido. Neste, a procura de sentido é portanto bem mais obstinada».(op.cit)
E, deveria ser assim? Compreende-se que assim deva ser? Teremos de olhar a actualidade para tentar encontrar a desculpa ou a justificação, quero dizer, os sintomas, para que se compreenda tão obstinada procura. Então, com o auxílio de Prigent, vale a pena reparar em alguns sintomas importantes. Habitamos um tempo histórico em que, por um lado, tendemos a acreditar na verdade objectiva das ciências positivas, e por outro, não nos inibimos de entrar nos discursos e nas práticas mágico-religiosas. Assim, tanto se quer e crê na velocidade e na mobilidade net, como se participa de bom grado num clube de yoga, numa seita religiosa ou num espectáculo de futebol.
Como refere Prigent, uns tentam estabilizar as indecisões traumatizantes na «carcaça de um moralismo totalitário», (op.cit), e outros refugiam-se «nas crispações nacionalistas, na xenofobia, nas acções de “purificação étnica” e no ódio racista».(op.cit) Ao mesmo tempo, é este um presente em que muitos se agarram à ecologia profunda que «constitui de agora em diante, o grande Desígnio que virá iluminar as zonas de penumbra, dando de novo sentido à acção humana, e re-mobilizando intrépidas e pouco críticas vocações militantes».(op.cit)

Neste contexto de falta de sentido, como ficam e onde estão os que não aprovam nem aderem à realidade tal como ela é dada, feita, pré-per-feita, sossegada, posta na tecno-ordem e em sistemática circulação? Onde estão e como ficam os que gostam do assombro, do mistério e da paixão? Em que superfície profunda caminha e canta a «velha toupeira poética»?(op.cit) De que literatura pretende ela escapar, e porque quer ela continuar a ser moderna? De que ficção consumível necessita explodir? No fundo, a questão que se coloca é a de saber se a escrita ainda faz sentido e se, no mundo humano, pode ela ser poética.
Com Prigent, defendo que a escrita é de nós e faz-nos ser. Sem a escrita a vida parece despersonalizada, parece falar miseravelmente falso. A escrita faz sentido em todo o tempo e em toda a língua ao permitir a experiência íntima do mundo, e ao tecer os limbos silenciosos da existência vindos na escuta do ser. A escrita faz pensar na palavra nova que sentimos solitária nas coisas do mundo que (nos)-fazem viver. E, neste movimento livramo-nos da regularidade, livramo-nos para um mundo que pode ser escrito em liberdade, na língua poética que nos faz homens. Porque, como diz David Mourão-Ferreira, «a palavra poética, na própria medida em que é um microcosmos, representa uma parcela da visão do mundo, subentende uma escolha, implica uma responsabilidade.» (“Depoimento sobre a Poesia da geração de 50”, in Gazeta Literária, II série, nº 12, Junho 1960)

DA INDIFERENÇA

"Um dia , uma amiga torceu um pé e fez uma ruptura de ligamentos. Andou meses de muletas. E começou a reparar nas pessoas de muletas. «Não imaginas a quantidade de gente que anda de muletas», informou-me. «Nunca tinha reparado, parece que, de repente, o mundo se encheu de coxos». O fenómeno, parece, sucede também com as grávidas: garantiram-ne que reparam obsessivamente nas grávidas. Como se as ruas, cafés, restaurantes, os elevadores, as praias, os cinemas e museus se tivessem povoado subitamente de grávidas. As mesmas que lá andavam antes, claro, mas agora envoltas num halo de reconhecimento e solidariedade-im halo que diz: « olha, outra como eu». ..... Dar-nos conta disso é darmo-nos conta da forma como funciona a percepção, ou seja, a nossa consciência e visualização da realidade, e de como está irremediavelmente condicionada pela prespectiva individual. O que isto nos diz, de uma forma tão simples, é que, mais do não existir um «ver» objectivo, só vermos o que nos interessa, aquilo que reconhecemos e em que nos reconhecemos.Esta capacidade ou incapacidade? - explica que quando somos jovens não reparamos nos velhos e que quando velhos reparamos tanto nos jovens: os jovens que não se imaginam velhos...mas os velhos sabem bem o que é ser jovem. ... A fenomenologia da percepção (...segundo Merleau-Ponty... »observação objectiva» é tudo aquilo de que nos apercebemos depende de quem somos e do que somos) implica que, no limite, possamos ser absolutamente cegos em relação a coisas que estão à frente do nosso nariz. Como os animais que num safari passam pelos carros cheios de turistas como se não existissem-porque neles não reconhecem nada que lhes interesse ou lhes diga algo de perceptivel - passamos todos os dias por coisas, situações e pessoas das quais não nos damos conta. è altamente provável - virtualmnente certo? - que não só não nos demos conta de parte substancial do que se passa á nossa volta como tenhamos, a maior parte do tempo, sequer a consciência de que isso assim é. .... Neste óbvio e tão fácilmente demonstravel paradoxo se fundamentam porém os conflitos, todos os desencontros, todos os choques, dos de trânsito aos civilizacionais , passando pela famosa incomunicabilidade relacional. Nenhum remédio, claro-a não ser o de, e sai outro paradoxo, tentarmos aperceber-nos da nossa incapacidade de nos apercebermos.Tentarmos admitir que vivemos em túneis de sentido e percepção, e que só podemos tentar imaginar o que é ser outro, o que é ver o que não vemos, o que é coxear quando não coxeamos (porque é tão fácil e rápido esquecer e não ver quando largamos as muletas). O que é - isso é o mais dificil - um mundo em que não existimos, um olhar capaz de não nos ver . " Um texto da jornalista Fernanda Câncio inserto na revista Noticias Magazine de 24/05/2009[/b]



Que em cada um de nós renasça a capacidade de sermos "coxos" aquando da indiferença , através de uma palavra, de uma porta aberta, de um sorriso